Está a comer queijo da forma certa? Os erros mais comuns e as dicas de um especialista
O Natal é sinónimo de família, tradições e de sabores que são obrigatórios e que dão a cada consoada o encanto típico desta quadra. O queijo, por exemplo, não pode faltar na mesa de muitos portugueses. Para homenagear a pastorícia e, sobretudo o queijo, de dentro para fora, foi criado o Museu do Queijo, em Peraboa, na Covilhã.
Pedro Silveira, coordenador do Museu do Queijo, está ligado ao início do projeto que surgiu em 2011 e admite ser um apaixonado pela arte de saborear um bom queijo e da melhor forma possível. "Esta iguaria representa um saber fazer secular e permite entrar na intimidade de um território”, afirma ao Conta Lá.
Confessa que há segredos sobre a forma como os portugueses degustam e olham para o produto e dá como exemplo o famoso queijo amanteigado, que os portugueses “insistem erradamente em abrir pelo teto, comendo-o à colher depois de lhe fazer uma abertura na casca superior”. “Esse processo está errado e é apenas um dos muitos exemplos de como os portugueses comem determinados queijos da maneira errada", sublinha.
Pedro Silveira explica que o queijo deve ser sempre fatiado, partindo do núcleo para o exterior (fatia triangular), para se conseguir degustar o queijo uniformemente. “O queijo ao longo do seu processo de cura desde o interior até à casca tem diversos sabores, a fatia em triângulo vai concentrar todos os sabores do queijo e outro aspeto em atenção é que a faca que parte o queijo queimoso não parte o queijo de ovelha e vice-versa”, ressalva.
Também o recipiente onde o queijo é guardado é fundamental para a manutenção do sabor e da consistência do mesmo. Segundo o responsável, o ideal é que fique num recipiente de madeira ou de porcelana, nunca de metal, pois o queijo tende a absorver o sabor metalizado.
E deixa uma dica a todos aqueles que tenham vários tipos de queijo em casa ao mesmo tempo: “A pessoa pode colar o rótulo do queijo na tampa do recipiente para que não se perca informação sobre a origem, a marca ou o tipo de queijo. Também pode ser útil na altura de servir a algum convidado, que terá de imediato acesso à proveniência e ingredientes do queijo que irá consumir”, explica.
Quase a terminar os conselhos, Pedro Silveira refere que o queijo deve ser guardado no frigorífico e, preferencialmente, perto dos vegetais para aproveitar a humidade que estes libertam. Contudo, deve ser retirado meia hora antes de ser consumido para voltar à temperatura ambiente.
Na preparação das tábuas de queijos para a mesa de consoada, o coordenador do Museu salienta que os queijos devem ser cortados em fatias e devem-se criar separadores com frutos secos ou uvas para que não se misturem os sabores.
De acordo com Pedro Silveira, “faltam, em Portugal, afinadores de queijo". "Há enólogos para o vinho, mas não há afinadores para o queijo, que se dediquem ao trabalho de cura do queijo, bem como a explicarem a forma como os portugueses devem consumir queijo, sendo este um produto endógeno e que movimenta milhões de euros”, frisa ao Conta Lá.
Na opinião do responsável pelo Museu do Queijo há ainda um caminho longo a fazer, nomeadamente no facto de criar outras variedades de queijo: “Temos de evoluir. O território tem um potencial que ainda não foi explorado. Um queijo, cujos rebanhos pastoreiam num vale, não produzem leite igual a um rebanho que ande no seu pastoreio a 800 metros de altitude”.
Por outro lado, confessa que não consegue compreender como é que nos dias de hoje “se vende queijo de marca branca”.
O Museu do Queijo oferece dois trajetos aos visitantes, um museológico e um gastronómico, o que permite diferentes experiências sensoriais. No final da visita guiada, os visitantes podem degustar diversas variedades de queijos com o vinho da região da Beira Interior a acompanhar.