Estudar com IA: apoio ao pensamento ou atalho perigoso?

A utilização da inteligência artificial no Ensino Superior pode trazer riscos para o desenvolvimento do pensamento crítico e da autonomia intelectual dos estudantes. Professores e alunos alertam para dificuldades e possíveis benefícios para o estudo se usada de forma consciente. 
Rui Mendes Morais
Rui Mendes Morais Jornalista
20 dez. 2025, 07:00

Estudar já não é apenas ler, escrever e memorizar. Hoje, ao lado dos livros e das canetas, surgem teclados, ecrãs e chatbots, que parecem sentar-se à mesa com os estudantes. Nas salas de estudo das Faculdades, o virar das páginas mistura-se com o clique dos teclados e o brilho dos ecrãs, numa nova melodia que transforma a forma como se aprende, pesquisa e cria conhecimento.

Rita e Rodrigo são estudantes de Mestrado em Data Science na Escola de Gestão de Informação da Universidade NOVA de Lisboa, admitem que a Inteligência Artificial (IA) tem vindo a tornar-se um apoio importante no estudo. “Uso mais numa lógica de aprender. Não é para fazer por nós, mas sim fazer um melhor trabalho”, sublinha a aluna ao Conta Lá. 

Ainda que a área de estudo esteja ligada à tecnologia e à programação, ferramentas como o Chat GPT são usadas com o objetivo de apoiar a aprendizagem, facilitar a resolução  e correção de trabalhos. Para Rodrigo, “já ninguém programa completamente sozinho sem recorrer à IA”. 

No entanto, o uso desta tecnologia no meio universitário levanta preocupações, sendo o problema não quem a utiliza como apoio, mas quem recorre aos chatbots apenas como criadores de conteúdos, o que pode comprometer o desenvolvimento do pensamento crítico. Ivo Bernardo, professor universitário, na área da tecnologia, da NOVA IMS, alerta para os riscos associados.

“Se usarmos estas ferramentas como uma espécie de cadeiras de rodas para o pensamento, ou seja suportar toda a locomoção cerebral nestas ferramentas, é um risco enorme. Não sabemos muito bem o que irá acontecer daí e como é que o ser humano vai desenvolver-se nesse sentido”. 

No entanto, a utilização consciente poderá ser uma das vias positivas da Inteligência Artificial nos estudos. É exemplo o uso como “corretor” e “desbloqueador criativo” que Ivo Bernardo descreve como uma prática que, de facto, ajuda e não faz todo o trabalho pelo remetente. Defende ainda que “pedir a estas ferramentas para fazer um texto” e “pedir para corrigir algo criado por um humano é muito diferente, porque na base esteve o pensamento”. 

No que compete ao Direito, a utilização é mais limitada. Francisco Marreiros, estudante da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL), explica que utilizar estas ferramentas “é muito difícil tendo em conta as barreiras que a IA tem no ponto de vista das fontes e do pensamento jurídico e da crítica”. 

Débora Durla e Frederica Antunes são estudantes da licenciatura em História, na Faculdade de Letras na Universidade de Lisboa (FLUL), lidam frequentemente com textos do Século XIV que o Chat GPT não consegue traduzir ou interpretar corretamente. 

Para as estudantes a ferramenta “não ajuda no estímulo de tentar raciocinar e pensar por nós próprios”, ainda que acreditem que “podem ser úteis como um apoio”, uma visão partilhada por Ivo Bernardo que defende a utilização e pode ser uma alternativa para quem não consegue aprender “sentado a ouvir uma pessoa a falar”. 

A utilização que tem vindo a aumentar com o surgimento de novas ferramentas, como o Chat GPT em 2022, tem sido impulsionado pelo surgimento constante de novos chatbots no mercado. Os docentes defendem que, apesar dos riscos,  podem ser usados de forma positiva no contexto académico, desde que não substituam o esforço intelectual dos alunos.